vovó...

"vem aqui um pouquinho?" foi a simples frase que tornou meu dia diferente.
foi aí que me perdi, que fiquei te imaginando...
aquele sotaque italiano vindo do muro, com a mesma entonação. senti tua falta. abracei-me e ao fechar os olhos enviei o abraço pra ti, bem forte.
eu sinto tua falta em tudo! em te ligar pra não falar muito, em aparecer de surpresa na tua casa e gritar no portão... sinto falta de pular o portão. de pular a janela, de pular na casa, de pular em todo lugar. sinto falta de saber todas as tábuas que rangiam no corredor - e tentar não pisar nelas no meio da noite pra não te acordar. sinto falta de quando me mandavas sair da janela, quando fazia quilos de figo com açúcar, sinto falta até da minha primeira infecção intestinal, por culpa de um cachorro quente forte feito por ti, de madrugada. sinto saudade dos teus risos... das vezes que tu gritavas "minha putiiiinha" com todo carinho, ou de quando resolvia falar (rápido) italiano só pra rir de mim. sinto falta das tuas mãos... grossas, com marcas de trabalho na roça e na costura. sinto falta dos desenhos na parede, das reuniões com tuas amigas, de arranjar sempre (sem teu conhecimento prévio)um bicho novo pra ti.
sinto a ausência do teu abraço, da história que contavas quando eu roubava batatas e comia alface com as mãos. falta do teu jardim, do cheiro forte de chuva na calçada, da bruma característica das manhãs. sinto falta de ganhar um colo...

"o que eu vou fazer pra te esquecer? sempre que já nem me lembro, lembras pra mim. cada sonho teu me abraça ao acordar como um anjo lindo mais leve que o ar, tão doce de olhar. que nem um adeus pode apagar.
o que eu vou fazer pra te deixar? sempre que eu apreço o passo, passas por mim, e o silencio teu me pede pra voltar ao te ver seguindo mais leve que o ar, tão doce de olhar, que nem um adeus pode apagar..."